quinta-feira, 28 de julho de 2016



MENTRUZ RASTEIRO, Coronopus didymus e ERVA-DE-SANTA-MARIA, Chenopodium ambroisiodes

Certo dia em junho deste ano resolvi fazer um passeio de identificação de pancs aqui pelo centro de Sâo Paulo, especificamente na Bela Vista. Fui caminhando meio levada pela intuição até chegar na rua Paim, já tinha quase que desistido de encontrar uma variedade de pancs, quando me deparo com um enorme estacionamento de carros e muitas plantas crescendo. Peço para olhar as plantas e o rapaz me autoriza a pesquisar as ervas do local.

Enquanto subia uns degraus pelo terreno um pouco em declive, já tinha percebido umas ervas-de santa-maria nascendo ao lado de uma mureta. Chegando na parte de cima vejo o chão forrado de mastruço rasteiro, pequenas mudas por toda parte... o mastruço rasteiro tem um sabor meio de agrião, ardido, lembra também o sabor da mostarda, ótimo condimento para se agregar a um molho de salada. Além do mastruço vi muitas outras espécies comestíveis como begônia, dente-de-leão, maria-pretinha, caruru, capiçoba, bertalha-coração, dentre outras, além de espécies medicinais...

tomatinhos recheados com creme de iogurte, maionese e mastruço rasteiro sobre folha de  chapéu de sol


creme de iogurte com maionese caseira e mentruz rasteiro picadinhopara salada

Mentruz rasteiro ou mastruço, Coronopus didymus crescendo no estacionamento da rua Paim, junho/2016



Eu já tinha visto o mentruz rasteiro nascendo em plena rua da Consolação, esquina com a avenida Paulista em uma frestinha da calçada, no Pacaembu, de onde coletei algumas mudas, nos Jardins, na Vila Romana e na pracinha mais próxima à aldeia indígena Tekoa Ytu.

As espécies de mastruços, mentruz ou mastruz normalmente são consideradas vermífugas, imagino que pelo sabor e aroma menos acentuado do que o mentruz (erva-de-santa-maria), sejam vermífugos mais moderados.

A erva-de-santa-maria possui um odor característico extremamente forte, um tanto desagradável para meu paladar. Segundo Valdely Kinupp, um dos autores do livro PANC – Plantas Alimentícias não Convencionais, este mentruz ou mastruz, no México é usado para temperar o feijão.

Como vermífugo é recomendado um chá infuso para ser bebido por apenas 8 dias, além desse período é considerado tóxico, segundo o naturalista Jaime Brunning. O óleo do mentruz ou erva-de-santa-maria não deve ser consumido em hipótese nenhuma, é altamente tóxico.





Erva-de-santa-maria em um parquinho da  Paróquia do Divino Espírito Santo, na rua Frei Caneca, junho/2016

Mentruz ou matruz ou erva-de-santa-maria nascendo no estacionamento da rua Paim, junho/2016

RECEITA: Creme para salada - molho de iogurte, maionese caseira com mentruz rasteiro

1 copo de iogurte natural
faça maionese com 1 ovo e vá juntando azeite até formar um creme a seu gosto, salgue, a seu critério ou bater com 2 ou 3 colheres (sopa) de mastruço  ou coloque picadinho no creme
1 dente de alho picadinho
3 ou 4 rodelas de cebola picadinha
misture tudo, recheie tomates e o restante use como molho de salada


Onde comprar o mastruço rasteiro: feira orgânica da Água Branca

sexta-feira, 22 de julho de 2016

LÍNGUA-DE-VACA, LABAÇA, Rumex obtusifolius


LÍNGUA-DE-VACA, LABAÇA, Rumex obtusifolius


Em um passeio guiado da Neide Rigo, fui apresentada à uma língua-de-vaca ou labaça (Rumex obtusifolius) dentro do Parque da Lapa, colhi algumas folhas e comi na salada junto com outras hortaliças cruas. Tinha um sabor nada notável.

Eu estava em dúvida se iria conseguir reconhecê-la novamente, e enfim não faz muito tempo, encontrei lindos exemplares na aldeia indígena, Tekoa Ytu, durante o trabalho de horta da escola guarani no Jaraguá. Já essas línguas-de-vaca da aldeia possuem sabor muito forte, dificilmente aceitável para meu paladar, comer crua. Dependendo da qualidade do solo e outras variantes, o sabor das plantas pode mudar consideravelmente.


Língua-de-vaca, Rumex obtusifolius na aldeia  guarani Tekoa Ytu, maio/2016

Descobri também que a Horta das Corujas possui uma grande quantidade de língua-de-vaca crescendo plenamente, com folhas muito grande que chegam a se confundir com o confrei. Para a Oficina de Identificação de panc's no mutirão da Horta das Corujas, que ocorreu em junho/2016,  resolvi fazer um patê de ricota e folhas de língua-de-vaca batidas no liquidificador, cruas mesmo já que essas tinham um sabor muito suave. Temperei apenas com sal e azeite, quem provou gostou, tinha um sabor bem suave, diferente da azedinha, a Rumex acetosa, que tem um sabor azedo, digamos meio cítrico.

Também encontrei algumas mudas da labaça nascendo na praça Waldermar Ortiz em frente ao terminal de ônibus Butantã.


Língua de vaca ou labaça na aldeia Tekoa Ytu no Jaraguá, maio/2016



quarta-feira, 13 de julho de 2016


PANC'S NA PERIFERIA (PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS) - OFICINA DE IDENTIFICAÇÃO DE PANC'S NO ESPAÇO CULTURAL JD. DAMASCENO NA BRASILÂNDIA

Dia 17/7/16 as 9h30, domingo,  ocorrerá uma Oficina de Identificação de Panc's no Espaço Cultural Jd. Damasceno - rua Talha Mar, 105 - Jd. Damasceno.  EVENTO CANCELADO transferido para 1/8

Costumo dizer que as panc's gostam de pessoas, constatei uma grande presença destas plantas em áreas com moradias, como hortas e proximidades de casas, onde há movimentação de pessoas: jardins, quintais, parques, praças, nas frestas de calçadas e frestas de muros...

Então por que não fazer uso deste recurso tão abundante e nutritivo, podendo mesmo se transformar em renda para as pessoas que trabalham em hortas? Devemos então difundir e levar a cultura desta alimentação rica, que privilegia a diversidade ecológica, orgânica, espontânea, saudável, de sabores exóticos a serem descobertos e que a natureza generosamente oferece “em nossa porta”.

Este tema também é uma oportunidade de voltarmos a nos reconectar com a terra, com a biodiversidade, com a sustentabilidade, com um novo olhar sobre os recursos naturais, com a preservação do meio ambiente, etc...


Oficina de Identificação de Panc's na Horta das Corujas – 19/6/16, foto de Pops Lopes


sexta-feira, 8 de julho de 2016

VOCÊ CONHECE OS FRUTOS DA PUPUNHA?


VOCÊ CONHECE OS FRUTOS DA PUPUNHA?

Domingo último visitei com alguns amigos, meus amigos a Ana do mel e o Paulo, no sítio Floradas da Serra em Embu Guaçu. Chegando lá logo notei lindas mudas de pariparoba nascendo felizes em toda parte pelo jardim, na entrada uma astrapéia branca para atrair as abelhas, e uma astrapéia rosa do lado de dentro da propriedade.



Astrapéia branca



Fomos recepcionados carinhosamente, lindo lugar com uma quantidade de plantas enorme, praticamente todo o sítio preenchido com mata. Neste local tão incrível cria-se abelhas, estas fantásticas trabalhadoras incansáveis com a linda função de polinizar as plantas.

Entre as muitas árvores do local, está a pupunha e fomos apresentados à fruta da pupunha, eu nunca tinha visto, tem uma cor bem alaranjada, provamos ela cozida, tem sabor que lembra a mandioca, e também um bolinho feito com farinha, ovos, queijo e acho que farinha de arroz, delicioso! Cozinha-se simplesmente com água e sal e é muito comum na Amazônia. Segundo Valdely Kinupp, o fruto tem alto teor de carotenóides. Os carotenóides agem como antioxidante, isto é previnem doenças cardíacas e câncer, além de retardar o envelhecimento celular e estimulam o sistema imunológico.

Aproveitei para coletar as pancs que nasciam por todo o jardim e fiz uma salada “Só pancs” decorada com flores de maria-sem-vergonha, temperada com azeite, limão cravo delicioso e um sal temperado da Ana com manjericão, orégano, hortelã e alecrim moídos, adorei! Apesar da geada que tinha queimado uma grande quantidade de plantas, rebrotaram novas plantinhas para o novo ciclo de vida. E aproveitamos as bênçãos de cada dia.





O fruto da pupunha



Os frutos da pupunha descascado, prontos para serem cozidos




Os bolinhos deliciosos da Ana e para acompanhar salada "taboulé  de  été" e  salada "só pancs" com flores

sexta-feira, 1 de julho de 2016

PARIPAROBA, caapeba, Piper umbellatum



PARIPAROBA, caapeba

A primeira vez que tive contato com essa planta foi no ano passado na ocasião de um mutirão do lago na aldeia Itakupe no Jaraguá. O cacique Ari me mostrou a planta e disse que ela é usada para males do fígado. A pariparoba, Pipper Umbelatum, é uma linda planta com folhas grandes, quase redondas, em formato de coração.


Pariparoba na aldeia guarani Tekoa Itakupe no Jaraguá, abr/2016


Logo depois percebi alguns espécimes do lado de fora da Horta das Corujas na Vila Madalena. Colhi algumas mudas para plantarmos na recém-criada agrofloresta na Vila Itororó, criada em outubro do ano passado... Essa agrofloresta foi toda desmontada, após 4 meses, mas essa é uma outra e longa história.

Logo depois vi com espanto um espécime nascendo em uma fresta na calçada na rua Simão Álvares em Pinheiros, depois encontrei outro no Sesc Interlagos e mais recentemente descobri que no Butantã nasce espontaneamente nos quintais e vi até nas frestas de calçadas no Morro do Querosene.




A pariparoba nascendo nas frestas de calçada no Morro do Querosene,  Butantã, jun/2016



A caapeba, da família das piperáceas tem um sabor, alguns dizem mentolados, outros picantes, e eu não achei nem um nem outro, achei um sabor meio aromático e forte. Refoguei algumas folhas como se fosse fazer refogado de couve na casa da Geni,  na aldeia Itakupe no ano passado e todos que provaram, aprovaram. Embora eu mesma tenha achado o sabor um tanto desagradável.

Para oficina de identificação de pancs na horta das Corujas, decidi fazer um patê com ricota e 5 fohas pequenas refogadas em alho e cebola, tudo batido no liquidificador... sabendo do sabor forte, coloquei uma ricota inteira, ficou gostoso, suave. O patê foi aprovado.

Porém li recentemente que não se deve exagerar no consumo, podendo causar sintomas de mal estar como náusea, vômitos, diarreia, etc e em casos mais extremos, paralisia. Soube também que em pesquisas feitas pela USP, descobriu-se que a raiz tem ação protetora sobre a pele.