domingo, 11 de maio de 2025

UVA JAPONESA, Hovenia dulcis, receita de docinho

 UVA JAPONESA, Hovenia dulcis, receita de docinho vegano

 


A árvore da uva japonesa está por toda parte na arborização urbana, tem porte médio, acredito, para grande, e não é nativa, até como sugere o nome. Também é conhecida por pau-doce. Usada na Medicina Tradicional Chinesa sobretudo para tratar a ressaca, há estudos comprovando atividade anti-inflamatória, hepatoprotetora, etc.


Essa árvore me faz lembrar a infância porque no meio do terreno da casa onde eu morava havia uma velha árvore dessa que todo ano soltava seus ramos com os frutos. 


Agora estamos em plena época de frutificação pela cidade, então podemos presenciar seus ramos com os pseudo-frutos caindo nas ruas e calçadas ou praças. Para coletar, eu recolho os caules com os pseudo-frutos que caíram nos arbustos abaixo da árvore, verifique se os frutos não estão com coloração preta estranha, pode estar meio estragada, então descarte. Tire as sementes, bolinhas que contém em seu interior umas 3 sementinhas marrom bem  brilhantes, se quiser, guarde para plantar ou doar. Lave os "frutos" e deixe secar ao sol por alguns dias, quanto mais seco, mais doce vai ficando.

 

Você pode triturar em liquidificador ou processadora estes pseudo-frutos secos e armazená-los em freezer para uso posterior, eu já fiz bolo adoçado meio a meio com uva japonesa e açúcar mascavo. A uva japonesa pode ser um substituto do açúcar mascavo.


Docinho de festa vegano com uva japonesa, Hovenia dulcis 
 
1 xícara (chá) de uva passa, deixe de molho por cerca de meia hora e escorra
1/2 xícara (chá) de uva japonesa, sem sementes e triturada
50 g de coco ralado
2 colheres (sopa) de açúcar de coco ou demerara
50 g de sementes de girassol deixado de molho umas 5h e escorrido
 
coco ralado, reserve para cobrir as bolinhas

Triture tudo no mixer, use óleo de coco nas mãos para fazer as bolinhas e passe em coco ralado. Sirva sobre folhas de capuchinha ou forminhas. Guarde na geladeira. Pode congelar, neste caso, para descongelar, descongele um dia antes do consumo.


Esta receita fiz para a festinha de aniversário da Mel, filhinha de uma amiga querida.

                               Uva japonesa no jardim do Centro Cultura São Paulo, 2018

 
             Uva japonesa, Centro Cultural São Paulo, 2018
 
 
                                        os pseudo-frutos sem sementes


                                      pseudo-frutos já triturados

sexta-feira, 9 de maio de 2025

A IMPORTÂNCIA DAS PANC no contexto da pandemia

 

Outro dia eu estava mexendo nos meus arquivos guardados e me deparei com este texto que nunca foi publicado em nenhum lugar e pra falar a verdade, escrevi talvez para algum projeto que nunca foi pra frente... Então decidi postar aqui no blog só agora.
 
 
A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO
CONVENCIONAIS (PANC) NO CONTEXTO DA PANDEMIA
 
                   
Caferana, Bunchosia grandulifera na casa do meu vizinho Marcelo, 2021
 
 
As PANC representam um conhecimento tradicional importante para a Segurança Alimentar neste momento de grande dificuldade causada pela pandemia. As PANC são plantas que antes eram conhecidas como ervas daninhas, às vezes usadas como plantas medicinais.
 
Entre as PANC temos as ervas, as frutíferas, flores comestíveis, tubérculos e raízes,
sementes ou ainda partes de plantas convencionais menos conhecidas como comestíveis.
 
Acredito que agora as PANC se tornam neste contexto, uma poderosa ferramenta para diminuir os impactos negativos da pandemia na alimentação da população brasileira mais carente, pois facilmente são encontradas em frestas de calçadas, praças, jardins, parques, quintais, terrenos baldios, como as ervas: serralha (Sochus oleraceus), beldroegão (Talinum paniculatum), dente de leão (Taraxacum officinale), picão branco (Galinsoga parviflora), etc. 
 
Algumas são árvores usadas na urbanização como a maçã de elefante (Dillenia indica), uva japonesa (Hovenia dulcis), a jaca verde (Artocarpus heterophyllus) pode ser consumida como legume altamente nutritiva, ou árvores nativas pouco conhecidas como a grumixama
(Eugenia brasiliensis) fruta deliciosa semelhante à cereja, paineira (Ceiba speciosa) que tem as folhas comestíveis quando refogadas… 
 
As flores comestíveis como as flores da árvore pata de vaca (Bauhinia variegata), as flores e folhas refogadas da chuva de ouro (Cassia fistula), a fruta verde do cacau (Theobroma cacao) pode ser consumida como legume cru em saladas, a bananeira (Musa x paradisiaca) possuem os corações/mangará comestíveis como antepasto além do palmito de seu pseudo tronco, são algumas plantas importantes
como alternativa alimentar.
 
Além dessas plantas citadas ainda é possível encontrar em terrenos baldios, barrancos pela cidade a taioba e a taioba roxa (Xanthosoma taioba e Xanthosoma violaceum), ambas devem ser consumidas refogadas, as cercas vivas como palma miúda (Nopalea cochenillifera), PANC que possui vitamina A e E, possui muitas utilidades culinárias como substituto do quiabo ou ovos batidos em bolos devido a sua mucilagem, pode ser consumida crua em saladas, pode-se fazer doce em calda, etc.
 
Muitas PANC são medicinais, antioxidantes o que significa que tem capacidade de prevenir doenças como câncer, problemas cardíacos, diabetes e ajudam na regeneração celular; são plantas ricas em nutrientes, minerais, com certeza auxiliará em grande medida no combate à fome e desnutrição.
 
Estes matos comestíveis já eram consumidas de longa data, até a primeira metade do século XX caindo depois no desuso, sendo substituídos aos poucos por plantas convencionais como alface, espinafre, repolho, rúcula, etc.
 
Além das plantas nativas comestíveis, desde a colonização do Brasil, nosso país foi
recebendo plantas alimentícias vindas de Portugal, da África, com a imigração vem também novas espécies comestíveis, os japoneses trazem o zuiki, tipo de taioba, kampyô, tipo de cabaça, o yomogui, tipo de artemísia, etc.Há uma necessidade de uma identificação rigorosa das PANC pois várias plantas possuem toxicidade e se assemelham no formato das folhas, possuem nomes populares iguais, isto é,
depende da região do país plantas diferentes possuem nomes iguais, o que causa grande confusão, o nome científico ajuda a ter um reconhecimento mais seguro da planta.
 
Outra questão importante é o local de coleta, é importante que seja um local limpo, por isso plantar as próprias plantas mesmo que em vasos, caixotes, garantirá um alimento seguro de poluentes e patógenos.
 
Também é muito importante além de estimular as pessoas a plantarem seu próprio alimento para consumo próprio, uma conscientização da preservação das espécies comestíveis das mudas e sementes tradicionais, através de encontros de trocas de mudas e sementes creolas* tanto de PANC como plantas convencionais, entre os moradores da cidade.
 
Regina Yassoe Fukuhara, mai/2021
 
 
 
 
FOTOS DE PANC pela cidade de São Paulo
 
 
1. almeirão roxo, Lactuca indica;
 
 
 
 2. coentro do mato, Eryngium foetidum, na Parada Inglesa; 
 
 
 
 3. beldroega miúda, Portulaca oleracea, na Consolação;
 
 
 
 4. cereja do mato, Eugenia involucrata, no Ipiranga;
 
 
 
 5. grumixama, Eugenia brasiliensis, na rua Lisboa;
 
 
 
 6. maria pretinha, Solanum americanum, no Jaraguá;
 
 
 
 7. palma miúda, Nopalea cochenillifera, Parada Inglesa;
 
 
 
 8. picão branco, Galinsoga quadriradiata, Parque do Ibirapuera;
 
 
 
 9. picão preto, Bidens pilosa, no vaso em casa;
 
 
 
 10. Tanchagem, Plantago australis, talvez na Pompéia
 

* Um dos grupos muito atuante até mais ou menos 2022 pela cidade foi o Semear Conhecimentos, ao qual participei em algumas ocasiões com minha mini Oficina de PANC, minha última participação foi no Semear Conhecimentos em Atibaia em 2022